quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Carta de um comandante, retrato de uma Polícia

No próximo domingo (17), na Praia do Leblon, os policiais militares do Rio de Janeiro irão às ruas, com o objetivo de reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Que isso não agrada e nada a cúpula de segurança do Estado, isso todo mundo sabe (exemplos como a exoneração dos caronéis Paúl e Ubiratan já demonstraram isso). Mas parece que há uma pressão por parte da chefia de segurança para que os coronéis não permitam que seus comandados se manifestem. Essa carta foi escrita por um comandante, que prefere não se identificar, e que se diz acuado pelas autoridades públicas quanto à marcha dos peemes no próximo domingo, na zona Sul.

Segue a carta, na íntegra:

Eu, policial militar, há tempo suficiente para entender a diferença entre a disciplina e a submissão, a hierarquia e a cidadania, a ordem e a ditadura, a paciência e a covardia, venho por meio desta carta aberta fazer um anúncio e uma denúncia a todos os cidadãos de nosso Estado do Rio de Janeiro.
Anuncio que no dia 17 de fevereiro do corrente ano será realizada uma passeata pacífica, sem armas, em local aberto ao público, independente de autorização, pois não frustra nenhuma outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, e com aviso prévio a todas as autoridades competentes, conforme preceitua o Inciso VI, do artigo 5º da Constituição Brasileira de 1988.
Ao mesmo tempo, venho denunciar um fato muito triste em nossa história Policial Militar: a repressão imposta pelo atual Comandante Geral de nossa Gloriosa Polícia. O mesmo PROIBIU os policiais de exercerem, em seu período de folga, a sua Cidadania.
Ele mandou recado para toda a tropa dizendo, através de determinação a todos os Comandantes de Unidades, que iria punir de alguma forma o Policial que participar da Manifestação Cívica, a ser realizada no dia 17 de fevereiro em frente à Praia do Leblon.
Será que a ditadura voltou, e ninguém nos avisou? Não sabemos se isso foi com o aval de nosso Excelentíssimo Governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito por todos nós - militares ou não. Mas sabemos de uma coisa: a Constituição não proíbe ninguém de exercer a sua cidadania. Sabemos também que teoricamente o nosso comandante geral não pode punir ninguém, mas o mesmo pode prejudicar qualquer policial honesto que venha a exercer a sua cidadania no próximo domingo.
Fica aqui o nosso recado... Onde iremos chegar com toda essa arbitrariedade, onde um comando - ao invés de exercer uma liderança sobre policiais chefes de família, filhos, pais, maridos, esposas, netos que morrem todos os dias por “30 dinheiros” - os ameaçam...
Toda a Polícia do Estado do Rio de Janeiro e seus familiares estão desapontados com o nosso Comandante Geral e, por Deus, esperamos que o nosso Eleito Governador ao menos não esteja ciente e nem de acordo com esta forma truculenta e arbitrária que o Comandante Geral por ele nomeado está conduzindo tal situação.
Assinado: um comandante próximo ao seu final de carreira, dividido entre a vergonha de reunir sua tropa para dar o recado determinado ou apoiá-la na passeata, jogando fora, assim, uma carreira de "sucesso" e deixando a família passando necessidades.

Nenhum comentário: